Anderson Foca é quinhentos em um,
muitas vezes eu me pergunto, como esse cara consegue não parar 1 minuto? Todo
dia é uma novidade, é festival, é incubadora, é circulação, é Camarones, é
livro, disco, ... Quando não é tudo isso, é futebol. [Rsrsrs...]
Agora todo mundo sabe que ele não anda
só, na verdade está sempre muito bem acompanhado, e como diz aquele velho
clichê "por trás de um grande homem, existe sempre uma grande
mulher", nesse caso uma baixista charmosa com a cabeleira que eu queria
pra mim, Ana Morena. [Momento inveja boa, rsrs...]
Uma dupla imbatível que trabalha dia e
noite com foco e determinação, por isso alcançam êxito e hoje são referências
na cena cultural do estado do RN e no Brasil.
Na semana que o Festival do DoSol foi
lançado, não poderíamos deixar de conversar com Anderson Foca e trazer pra cá
um post com conteúdo super importante para todos os produtores, artistas e
gestores. Aproveitem todas as dicas, aprender nunca é demais.
1- Quem é Anderson Foca?
Foca: Sou
um vivente da música. Dentro dessa vivência faço quase tudo que envolve música,
componho, produzo, faço eventos, gravo discos, faço vídeos e o que mais precisar!
2- O
espaço cultural DoSol é hoje uma referência para os produtores e músicos
independentes de todo o país. Como foi iniciado esse projeto? Em que consiste o
DoSol, produtora musical, espaço cultural, incubadora, gravadora, selo? Como
são articuladas essas áreas?
Foca: É
tudo isso que você falou aí e mais um pouco. O CCDosol nasceu em 2004, está
completando 10 anos de atividade. Ele apareceu num momento em que a gente
precisava escoar nossa produção para as pessoas da cidade, uma casa de música
autoral que as pessoas pudessem se identificar, ser uma espécie de catalizadora
de todo o movimento autoral ligado ao rock que produzíamos naquele período. O dosol
em si é uma espécie de atmosfera própria para música sobreviver, criamos ao
longo destes 14 anos uma engrenagem capaz de registrar e circular música de
ponta a ponta. Isso inclui estúdio, centro cultural, produtora, ilha de vídeo e
um monte de empreendimentos culturais espalhadas pelo ano, atividades que
fortalecem isso: Festival dosol, circuito Cultural ribeira, Virada Cultural
Natal e Natal Instrumental entre outros.
3- Vocês
(Foca e Ana) têm uma vida produtiva muito ativa, estão sempre lançando uma
novidade nas mídias sociais, seja um show, uma turnê, um evento ou projeto
novo. Como funciona essa rotina de trabalho? Como dá conta de tanta coisa e
conseguir êxito?
Foca: Primeira coisa é organização desse fluxo, temos muito cuidado com a narrativa
do que estamos desenvolvendo. Também fazemos isso há muito tempo e o timing de
realizações já é bem menos complexo que nos anos iniciais. Isso fez com que
fôssemos capazes de acumular mais atividades sem abrir mão da qualidade do que
fazemos e da qualidade das nossas próprias vidas. É uma vivência, um lifestyle.
Não tem dia nem hora.
4- Vocês
propõem muitos projetos em leis e editais, são contemplados com grandes
patrocínios e agregam também muitas parcerias importantes. Como funciona esse
processo de captação de recursos em termos práticos? Essa é uma questão que
gera muita curiosidade por parte da turma que está iniciando na área e quer
saber como funciona o processo de escrever o projeto, lançar na lei, depois ir
atrás do patrocinador, preparar ou não um projeto comercial, enfim, como vocês
executa essa parte do trabalho?
Foca: A primeira coisa a dizer é que as pessoas só veem os projetos que ganhamos, mas
a verdade é que perdemos centenas deles. Acho que 100 para 1. 100 projetos
inscritos para ganhar um. Uma coisa que a gente acredita é que projetos não
podem ser concebidos para os editais, eles têm que ser concebidos para
acontecerem dentro de uma estética escolhida pelo seu realizador. Quando você
tem convicção de que o projeto é bom, testa ele com verba própria antes de
realiza-lo com os editais, manda um sinal positivo pro mercado e isso faz a
diferença na hora de concorrer. Editais
também são um exercício, muitas vezes inscrevemos projetos que sabemos que não
temos chance de ganhar só para estudar, mudar, ajustar e se preparar. O
Festival Dosol teve sua primeira edição sem patrocínio de leis, a Incubadora
também foi feita com verba própria antes de ser aportada por um patrocinador, só
para dar dois exemplos de como isso funciona. O Circuito Cultural Ribeira foi
concebido e passou três anos na gaveta até ver a luz do dia aprovado num
edital. Ou seja, não adianta “criar” projetos em cima da hora para concorrer em
editais que a chance de ganha-los é pequena.
5- Sobre
as leis de incentivo locais, Lei Municipal Djalma Maranhão e Lei Estadual
Câmara Cascudo, o que você acha que poderia melhorar para que esses programas
alcancem cada vez mais novas iniciativas e expanda o pequeno núcleo de contemplados
anualmente? Será esse um problema da lei ou dos que submetem projetos nela?
Foca: Primeira coisa que a lei Câmara Cascudo poderia fazer é escalonar
diferenciadamente cada empresa que se interesse em patrocinar projetos. Com 2%
de ICMS de renúncia praticamente só as telefonias, Cosern e outros poucos
patrocinadores podem patrocinar de maneira sólida. Isso é um problemão. Acho
que as comissões deveriam ser remuneradas e que pudessem fazer visitas na
gestão e realização dos projetos. Isso facilitaria as coisas na hora de aprovar
ou desaprovar alguma atividade. A Lei Djalma Maranhão é muito mal divulgada,
acho que a prefeitura poderia investir em divulga-la melhor. Ainda há muito
desconhecimentos dos empresários quanto as leis.
6- Agora
falando sobre música, rock! O RN tem uma história muito potente em movimentos
autorais, sobretudo no cenário rock, bandas como Impacto Cinco, Alcateia
Maldita, Gato Lúdico, Cabeças Errantes, Fluidos, Modus Vivendi, Sodoma, General
Lee/Junckie, Florbela Espanca entre muitas outras marcaram os anos 70, 80 e
90. Você acha importante que essa
história seja preservada?
Foca: Acho e fazemos nossa parte. O único registro em disco do General Junkie é
lançamento do Dosol só para dar um exemplo. Também fizemos nosso livro de 10
anos que também serve de registro de parte importante dessa história rica do
rock potiguar. Não sou contemporâneo desses grupos, mas conheço bem a história,
tomara que mais gente se envolva nesse processo, estamos prontos para ajudar no
que for preciso.
7- Nas
décadas citadas na pergunta anterior o trabalho autoral da maioria dessas
bandas era cantado em português. Hoje vemos que a maioria das bandas que toca
no DoSol cantam rock em inglês, como você analisa esse contexto?
Foca: Acho que não são tantos grupos assim cantando em inglês, por um momento foi até
mais. Eu vejo isso como uma coisa desse tempo atual. Cosmopolita, internético e
afins. Muito mais gente falando outras línguas, visitando outros países e
tratando a cultura como cidadã do mundo. Não acho que seja um problema. É o gap
geracional de hoje e temos que aceita-lo. Eu ainda prefiro bandas que cantam em
português, mas não tenho nenhum problema em curtir quem quer outro caminho,
seja ele qual for.
8- O
Festival DoSol está aí, batendo na porta, e logo mais a cidade receberá um dos
acontecimentos musicais mais esperados do ano. Para esta edição como as coisas
vem caminhado, quais atrações você já pode soltar pra gente, que novidades o
festival está trazendo em termos musicais e também enquanto produto cultural,
tipo, alguma campanha socioambiental, digital, educativa ou até mesmo de
incentivo artístico?
Foca: Quando essa entrevista tiver no ar já teremos divulgado o line up que está
muito legal. Bandas gringas, Céu, Jorge Cabeleira, Pitty, Boogarins, Priguissa,
Camila Masiso, quase 100 shows ao todo. Acho que o festival acontecer já é um
incentivo artístico tremendo porque ele trabalha diretamente com a divulgação
desses artistas que se apresentam e não é de hoje. Vídeos oficiais de quem
toca, takes, sessões em vídeo, sem contar na enorme produção que se dá de
artistas que gravam já no intuito de participar da mostra. Estamos num flow
interessante com os artistas locais, sempre foi assim.
9- O
Festival é patrocinado 100% por empresas que renunciam seus impostos
direcionando ao projeto aprovado na lei, nesse caso na Câmara Cascudo. A
renúncia é de 80%, porém a empresa entra com contrapartida de 20%. Se o valor
do projeto está todo pago, porque vocês cobram entrada para o público? Se não
está 100% bancado, a entrada é cobrada para cobrir esse restante em aberto ou é
cobrada para criar mesmo o hábito do público pagar pelo que está sendo
oferecido?
Foca: Temos três patrocinadores master, mas só um se utiliza das leis de incentivo
que é a TIM através da Lei Câmara Cascudo, Ray-Ban e Petrobras são
patrocinadores diretos, não usam isenção de impostos para nos patrocinar. O
Festival Dosol é quase todo gratuito. Todas as etapas do interior são com
entrada gratuita e a etapa de Natal vai custar R$5,00 que também é uma maneira
de valorização do que é oferecido e também um instrumento que nos dá segurança
e controle do fluxo de pessoas dentro do festival. Precisamos de bilheteria e
bar para cobrir custos do festival também. Nem sempre o que é pedido no projeto
que vai para lei é o que acontece na prática. A lei por exemplo não prevê três
cidades que estamos visitando na mostra 2014, só para dar como exemplo.
10- Agora
uma pergunta que faço para todos que tenho conversado aqui no blog. Quais são
suas referências culturais, o que você costuma ouvir, ler assistir, consumir?
Quais locais e programas costuma frequentar aqui na cidade, além do espaço
cultural DoSol, claro? [risos...]
Foca: Eu sou um frequentador de lugares com boa comida, gosto muito. Eles são via de
regra também bons espaços culturais e para ótimos encontros. Vou em muitos
shows, principalmente fora do RN (tenho uma banda que circula muito) e adoro
estar em festivais de música de todos os tamanhos. São divertidos e
surpreendentes.
11- Essa
aqui é um bônus track. Como é que funciona essa mistura de trabalho e vida
pessoal 24h entre você e Ana Morena?
Foca: Para gente é natural e dá muito certo. Respeitamos bem o espaço de cada um
dentro e fora do trabalho e tem funcionado. Não recomendo, mas para gente dá
certo, ehehehehe.
Valeuzão Foca pela disponibilidade e gentileza em contribuir com o conteúdo desse blog.
Curtiram? Compartilha! Para saber mais sobre o trabalho de Anderson Foca confiram os links abaixo:
Site: http://dosol.com.br/
Camarones Orquestra Guitarrística: https://www.youtube.com/watch?v=qOLdpPQIK6E
Produção Mode On!
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