quinta-feira, 5 de junho de 2014

"Proposição, entusiasmo , persistência, criatividade e ética, são essas palavrinhas que fazem a diferença", conversa com Renata Marques

Produtora cultural
Renata Marques
Nossa sessão de conversa desta semana será com Renata Marques, e antes de falar tudo que ela sabe fazer muito bem começo agradecendo por ter aceitado o convite para me responder essas dez questões e também pela parceria de sempre, por ter sido uma pessoa muito importante em minha formação, que tive a oportunidade de conviver dias intensos e compartilhar sonhos e produções. Tô contigo e não largo, sou sua fã! [Momento declaração, rsrs... Mas é isso mesmo, uma das coisas que aprendi é reconhecermos as pessoas que estão junto, que nos ajudam e nos impulsionam, Renata é uma dessas pessoas].

QUEM É RENATA MARQUES?

Produtora, Gestora Cultural, Comunicadora e Poeta. Atua a 7 anos no campo da produção e gestão cultural em Natal através de produções independentes e também da Associação Tropa Trupe, um grupo de artistas e produtores envolvidos com as artes cênicas, em especial a linguaguem do circo. No campo da produção tem experiências nas áreas de elaboração e execução de projetos, tendo aprovado projetos anualmente em editais e fundos de cultura. Realizou projetos e intercâmbios culturais com artistas, coletivos e redes da Argentina e Venezuela. É formada em Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN e atualmente é estudante do curso de Produção Cultural do Instituto Federal do Rio Grande do Norte - IFRN.  Apaixonada por literatura é uma poetisa de sensibilidade à flor da pele. Publicou de maneira artesanal o cordel poético "Versos Poti"e o fanzine "Tua". Em 2010 participou de uma audição poética "Toque de Colher Poema" junto com outros 4 artistas da cidade; em 2012 foi contemplada em 1ª lugar no Concurso de Poesia Othoniel Menezes realizado pela Fundação Municipal Capitania das Artes e em 2013 participou da exposição "Poéticas Ensolaradas "no espaço cultural Solar Bela Vista.

1- Como e quando começou seu percurso na área da cultura?  

Renata: Desde pequena tenho uma afinidade com as artes. Eu, por exemplo, gostava de ajudar organizar as festinhas americanas, montar coreografias com as amigas, escrever poemas na escola... Essas coisas sabe? Na época de entrar na faculdade optei pelo curso de comunicação social. Nesse ambiente conheci e me envolvi com o Lado [R], o Fora do Eixo, a Tropa Trupe,  o Egbé de Capoeira Angola e o Coletivo Ame.  Foi bebendo o conhecimento nessas fontes que iniciei meu percurso. 

2- Quais os desafios mais significativos no início de sua jornada como produtora cultural?

Renata: Na verdade eu vislumbro mais incentivos que desafios no início de minha jornada. Afinal a universidade funcionou como uma espécie de incubadora de alguns desses projetos que mencionei anteriormente. Durante os 3 anos que ocupamos a lona do Circo Tropa Trupe tivemos incentivos como projetos de extensão do DEF/DEART/UFRN e grupo permanente do NAC/UFRN. Quando “a casa caiu” ou melhor “a lona rasgou”, foi a experiência e o repertório adquirido nesse período que possibilitou que revolucionássemos partindo de Natal em busca de novas experiências e mais conhecimento. 

3- Como surgiu a Tropa Trupe? 

Renata: A Tropa Trupe veio de São Paulo carregada na caixola dos sonhos de Rodrigo Bruggemannn e contagiou um monte de gente em Natal. Eu fui uma delas!  Hehehe 

4- Como a Tropa Trupe tem se estabelecido profissionalmente na cena cultural? 
#Produção #Financiamento #EspaçoPróprio

Renata: A sustentabilidade foi e continua sendo um desafio nosso. Antes mesmo da “lona rasgar” o contexto que já estávamos vivendo era muito instável , politicamente tínhamos em Natal com a (des)gestão de Micarla de Souza, o projeto de extensão tinha “perdido a validade”, a universidade estava mudando de reitoria e o Departamente de Educação Física não nos queriam mais pelas áreas.  Brincamos que saímos corridos daqui, porque nada conspirava a favor.  Não tínhamos entusiasmo de buscar outro espaço na cidade e então decidimos viajar.  Nosso espaço foi cada coletivo que visitamos, cada praça ou  teatro que nos apresentávamos. Conhecemos muitas organizações e formatos de coletivos e convivência.  Foi muito enriquecedor! Depois de um ano e meio mais ou menos decidimos “encarar” Natal de novo. Meados de 2012 saiu o recurso do Prêmio Procultura de Estímulo ao Teatro, Circo e Dança - 2010 e o Prêmio Funarte de Doação de Equipamentos de Iluminação Cênica - 2011, então decidimos investir em um novo espaço o Galpão Tropa Trupe.  Até ano passado o espaço foi gerido com essa verba. No novo espaço já aconteceram apresentações e oficinas,  uma porcentagem  do valor cobrado sempre é revertida para o galpão. Mas essa entrada é mínima.  Esse ano por exemplo estamos bem apertados e estamos pensando mais uma vez em mudar de local. É custoso a manutenção de um espaço, hoje eu vejo dois caminhos: ou buscamos simplificar ao máximo a estrutura (algo apenas para ensaios e treinos) ou se associa com outros grupos a exemplo da A.B.O.C.A. Mas isso serão cenas dos próximos capítulos... 

5- Atualmente estão trabalhando na produção de um novo espetáculo e para angariar recursos optaram também pelo crowdfunding (financiamento coletivo). Como chegaram nesta estratégia e como ela vem sendo estabelecida, os resultados obtidos e quais dicas você passaria para os que estão em busca de novas maneiras de financiamento?
Para conhecer o novo espetáculo, assistam: http://vimeo.com/84795861

A lenda do trapezista cego
Renata: Aprovamos em um edital apenas 1/3 do valor orçado inicialmente. Mesmo assim iniciamos o processo. Passamos todo o ano de 2013 inscrevendo para editais, e até o primeiro trimestre não havíamos recebido respostas então decidimos que deveríamos buscar de realiza-lo, “si o si” como dizem “nuestros hermanos”. Sabemos que temos um público muito presente e atuante, sabemos de casos entre conhecidos e parceiros nossos que viabilizaram projetos como gravação de CD e viagens, através dessa ferramenta e então concluímos: “porque não tentar?”  Fizemos um vídeo em parceria com o Coletivo Caboré e lançamos no Catarse. A duas semana recebemos a notícia que fomos selecionados no Rumos Itaú Cultural com o Projeto “ Agora eu posso ver!” . Agora sim vamos  viabilizar a finalização, estreia e temporada. Então estamos  revendo as estratégias. Demos uma pausa na campanha, estamos em contato com o Catarse para saber como devemos agir.  Vamos dá um retorno pessoal para cada pessoa que nos apoiou e garantir que elas possam estar na pré-estreia do espetáculo. Mas a Campanha estava indo bem... a ferramenta da colaboração coletiva como uma opção de financiamento de uma ação cultural é muito viável. 

6- Além de se dedicar a produção da Tropa Trupe quais outros projetos e ações você está envolvida ou pretende colocar pra frente?

Renata: Aiiiin são muitas as idéias e possibilidades !!! O próximo passo com a Tropa Trupe é finalizar o processo de montagem e estrear o espetáculo A lenda do Trapezista Cego, co-produção Brasil e Argentina com a Tropa Trupe e o diretor Walter Velazquez. É projeto também criar uma fluxo de conteúdo e programação entre as Casas Artísticas “Na Jaguarari” em Natal , na região metropolitana, e Casa Chico Cajá em Pau dos Ferros, no Alto Oeste Potiguar.  Na Casa Jagurari hoje esta funcionando Estúdio INK Tatoo, brechó de figurinos, lojinha de malabares e o Hospeda Cultura.  Esse ano já passou por lá Mañu e Rafiki (Paraguay), Daiani Brum ( Esparatrapo/SP) e agora nesse período de junho e julho estarão na casa 2 integrantes do Circo Social Mison da Venezuela. Em Pau dos Ferros a gestão da Casa Chico Cajá, fica por conta de Rosane Felix, minha super parceira, professora do IFRN, que  tá realizando um trabalho consistente de educação e formação de público por lá. Esses dias o Projeto “ Para eu parar de me doer” realiza oficinas e intervenções poéticas. Essas mesmas ações do grupo já aconteceram na casa em Natal. 
A Casa Artistica me estimula a pensar, trabalhar e propor projetos de intercâmbio e circulação de coletivos, grupos e artistas. Estou em diálogo com grupos da América Latina na Venezuela, Argentina, Peru e Brasil . Os contatos são através de diferentes linguagens:  artes cênicas (Tropa Trupe, Xibalba Itinerante, Walter Velazquez  e Circo Mison) , artes visuais e comunicação (Urbano Aborigen, Nosostras em la calle, Civone Medeiros, Florencia Goldsman e Coletivo Ame) e música (Clarita Pinheiro , Viover Los Piraos e Kultura Santa).  Agora é um momento de planejar,  elaborar,  semear,   em breve veremos o que brota, o que vinga, o que dá.

7- Como você analisa a cena cultural na cidade de Natal em relação a área circense?

Renata: Temos uma cena cultural circense fragilizada. Não temos diversidade nem pluralidade de grupos na cidade, não é investido em espaços de formação, não somos rota frequente de circulação nem de circos nem de espetáculos circenses... 

8- O que te estimula a trabalhar com cultura?
  
Renata: Eu sou apaixonada pelo que faço, quando faço, onde faço e como faço. O que me estimula é o prazer do encontro, do enlace, da possibilidade, da criação, da transformação. 

9- Quais suas referências culturais, o que costuma ouvir, ler, assistir, quais lugares e programação cultural costuma frequentar?

Renata: Estou passando por um momento bem particular e íntimo, acabei de ter bebê então minhas buscas tem sido muito sobre esse universo. No universo da música descobri: Pequeno Cidadão, Palavra Cantada, Música de Brinquedo... Uma coletânea de canções de ninar de todo o mundo... 
Estou fazendo dois cursos on lines, então  entre uma mamada e outra tenho lido sobre gestão de espaços culturais, economia criativa e elaboração de projetos. 
Todo o processo da gestação até a recém chegada do bebê exige tempo e dedicação exclusiva ... não tenho circulado muito pela cidade, mas seria fácil me encontrar pelo CCR, Casa da Ribeira, A.B.O.C.A, Ateliê Flavio Freitas, Pinacoteca, Gira Dança, Barracão dos clowns, Nalva Melo, Facetas, Buraco da Catita, IFRN ...

10- Em suas andanças por outros estados e países, sempre em contato com artistas, grupos, produtores e articuladores, o que você analisa de uma maneira geral como sendo algo que pudesse nos servir para pensarmos e praticarmos em nossas atuações na área cultural aqui na cidade?

Renata na Banquinha
Renata: Proposição, Entusiasmo , Persistência, Criatividade e Ética. São essas palavrinhas e outras más que aprendi nas viagens e que vejo que fazem a diferença. São essas atitudes e valores que eu gostaria de ver praticado na área cultural de Natal.
Eu sinto falta de mais proposições: oficinas, vivências, rodas, encontros, festivais ... Sinto falta de uma permanência  e continuidade de ações para que os resultados possam saltar aos nossos olhos. Porque uma ação contínua e permanente transforma! E isso é que me fascina na cultura. Você sempre vai está ampliando seu repertório.
Nos lugares onde percebi um maior comprometimento da Gestão Pública as coisas parecem que acontecem, simplesmente porque as coisas são facilitadas. Então eu desejo para Natal um gestor cultural capacitado ( não apenas indicado, nem somente artista) bem criativo, competente, ético,  com uma equipe numerosa  e consciente da  sua função, que trabalhe através de consultas à população, estimulando o protagonismo da cultura viva nos quatro cantos da cidade.  Não resolveria tudo mas melhoraria bastante nosso cenário local, pense! 

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E aí, curtiu a conversa, quer saber mais sobre o trabalho de Renata Marques, Tropa Trupe e outras coisitas más? Segue aqui 2 links que irão te levar aos locais certos:

Site da Tropa Trupe: http://www.tropatrupe.com/
Blog abastecido com os poemas e escritos de Renata: http://versospoti.wordpress.com/


Pois é isso, seguirei conversando com esses incríveis personagens de nossa cena cultural que estão transbordando de conteúdos para compartilhar. Agradeço a leitura e peço que disseminem com os amigos e companheiros de labuta. 
Vamos nessa. Produção Mode On!

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