terça-feira, 28 de janeiro de 2014

"Produção é mais que uma profissão. É um estilo de vida!", conversa com Marcelo Veni

Sobre produção cultural
Marcelo Veni 
Há 18 anos o produtor cultural Marcelo Veni caminha pelas veredas da cena cultural e está cada dia mais arrojado e preocupado com o reconhecimento, a valorização e incentivo aos artistas do estado. Diante dessa pauta em 1998 surgiu a ideia do Prêmio Hangar de Música, evento anual que homenageia e premia músicos potiguares e brasileiros em diversas categorias.
A conversa com Marcelo Veni me parece bem importante para os que estão na batalha cotidiana desse fazer profissional, pois aqui ele compartilha um pouco de sua auto-estima e saberes que foi adquirindo em sua caminhada. É sempre bom poder absorver um pouco de outras experiências e com isso pensar novas possibilidades além de engrandecer o repertório. 
Segue a conversa.

1 - Você é o idealizador e produtor de um importante projeto na cena cultural da cidade de Natal, o Prêmio Hangar de Música, um projeto que não se encerra numa noite bonita e festiva, mas que se configura num processo de produção artística e valorização da cultura local. Como surgiu o projeto do prêmio e como vem sendo executado ao longo das edições?

Marcelo: A ideia do Prêmio Hangar surgiu em novembro de 1998. Queria fazer algo que homenageasse as bandas do estado no dia 22 de novembro ( dia do músico ) e como estava muito em cima, eu fui amadurecendo o formato de como seria a premiação, os troféus, definindo categorias, integrantes do júri, votação popular. Na noite de 30 de janeiro de 1999 estava realizando a 1ª edição do Prêmio Hangar no espaço underground do vice-versa no Centro da cidade.
Com o resultado da 1ª edição e a repercussão junto aos músicos, na sociedade e imprensa, surgiu o desejo de levar a premiação para um espaço maior, precisamente um auditório; assim foi viabilizado o auditório do CEFET/RN. O  Teatro Alberto Maranhão (no bairro da Ribeira) foi o nosso cenário da 3ª a 10ª edição. Foi lá que vivemos e compartilhamos grandes momentos com o público e com os músicos do estado e de outras cidades. No ano passado com o patrocínio da COSERN, através da Lei Câmara Cascudo e Governo do Estado levamos a premiação para o Teatro Riachuelo iniciando um novo momento do Hangar.
Sempre ouvi sugestões, ideias e críticas como forma de melhorar a cada  realização do projeto. E este é o caminho que venho seguindo. O que é bom vem sendo inserido e aproveitado em cada edição.

2 - Atuar como produtor cultural na cidade de Natal ainda é uma função que se esbarra em dificuldades dos mais variados tipos. Com quais problemas você costuma se deparar no seu cotidiano profissional? 

Marcelo: O produtor tem que transformar as dificuldades em oportunidades, sabendo usá-las a seu favor. Quando penso em produzir algo não me apego mais em questões de que isso ou aquilo vai ser difícil. Não penso mais nisso. Vou lá e busco viabilizar. Produção é resultado de trabalho e determinação.

3- Existe um certo modismo na profissão do Produtor Cultural, muito oba oba que acaba criando um boom crescente de produtores na cidade, como você analisa esse momento?

Marcelo: O boom é bom! Não por modismo ou algo parecido, mas pelo próprio filtro que isso causa, podendo no futuro revelar bons profissionais. Os produtores ganham visibilidade aparecendo em entrevistas e divulgando seus projetos nas tv´s, jornais e sites. Temos um curso de produção cultural no Estado (no IFRN campus da Cidade Alta), então passa a ser natural que se aumente esse interesse pela área.  Eu tive a experiência positiva de ter 05 alunos do IFRN como estagiários na produção do Prêmio Hangar 2013, o empenho e a dedicação de cada um foram bastante satisfatórios para mim. Espero que novos produtores surjam e que possam em breve proporcionar bons projetos, viabilizando mercado de trabalho e a acessibilidade aos nossos bens culturais. 

4- As leis de incentivo a cultura são como oásis no deserto, de repente parece a salvação, porém na prática sabemos da dificuldade em captar o valor que lhe foi concedido pelo governo por meio de um tramite legal. As empresas, pelo que me parece, ainda não estão bem engajadas nesse sistema e muitos projetos acabam sendo contemplados pela lei de isenção de impostos, mas não conseguem de fato captar o recurso. Que tipo de ação você acharia interessante, enquanto produtor, para capacitar essas empresas, futuros patrocinadores e colaboradores da cultura na cidade?

Marcelo: Sempre sugeri que a importância e benefícios das Leis Culturais fossem divulgados amplamente pelo Governo via propaganda na TV, folder explicativo, dentre outros canais de comunicação. Isso demonstraria para as empresas e para a sociedade como um todo o quanto é positivo incentivarem a nossa cultura via leis e programas de incentivos culturais. 

5- Como você costuma realizar seus projetos no que diz respeito a patrocinadores? Tem trabalhado com leis de incentivo, editais ou prefere a captação direta chegando ao possível patrocinador/parceiro/apoiador?

Marcelo: Em qualquer situação tem que visitar, tem que ligar, agradecer a atenção dada. Tem que correr atrás das ferramentas disponíveis. Editais, Leis de incentivo, Fundos de cultura, pequenos e médios apoios. Tudo é bem vindo e tudo é necessário. As parcerias públicas e privadas são fundamentais. Na cultura, como estamos no mesmo barco, a ‘’parceria artística’’ beneficia a todos: Produtores, Artistas e público.

6- Há quanto tempo você atua enquanto produtor cultural e como chegou nessa escolha de profissão? 

Marcelo: Profissionalmente trabalho na área há 18 anos. Mas meu envolvimento com a  arte vem desde os tempos de escola; ampliou nas ações político-cultural no movimento estudantil. Tive uma rápida e importante experiência como ator, sonoplasta e contra-regra em grupos de teatros. Durante um tempo me diverti muito fazendo Cazuza cover em gincanas e nas escolas públicas. Em 1996, quando participei da equipe de apoio da Maratona Fotográfica “Zoon Fotografia”, do carnaval do Bloco das Kengas  e dos shows de lançamento do CD da cantora potiguar  Cida Lobo foi quando tive a certeza que meu trabalho seria com  produção cultural.  

7- Quais são suas referências culturais? O que você costuma ler, ouvir, observar, assistir? Que programas culturais você procura frequentar aqui na cidade?

Marcelo: Nasci em Brasília e morei um tempo no Goiás. A mistura musical do rock com o sertanejo raiz me perseguiu desde sempre. O encontro com a obra de Raul Seixas e Paralamas veio através dos vinis que meu pai comprou e jogou na estante da sala. Cazuza foi amor a primeira música. Legião eu devorava junto com os amigos nos corredores do colégio. Minhas referências vem do rock. Entre rebeldias e canções de amor. Vem do poeta gritando ‘’Deus me livre de ter medo agora que eu me lancei no mundo’’. Vem de uma frase estampada na camiseta te fazendo lembrar que “ Liberdade conquistadas, são liberdades conquistadas.’’
Queria ler mais, muito mais. Tenho cinco livros que não consigo terminar de ler. Mais uns cinco para começar. E querendo adquirir outros. Meu trabalho me consome muito. Ouço muita música. Em casa até canto junto. DVD´s de vários títulos da 7ª Arte estão a disposição no meu quarto. Gosto de ter sobrando. 
Vou em programações do centro histórico ao teatro Riachuelo com a mesma naturalidade. Gosto de cinema, fotografia, teatro, vou às festas, projetos culturais e shows dos mais variados estilos musicais do rap ao forró pé de serra, do reggae a música instrumental, do samba ao rock eu tô lá. Além dos espetáculos de dança e demais expressões artísticas, como o circo, por exemplo. In loco muitas vezes o produtor se faz plateia. È bom assistir como público.  Os espaços gastronômicos e a natureza, como Pipa e Baia Formosa, também me apetecem. 

8- Voltando ao Prêmio Hangar. Na edição 2013 a cidade abrigou um belo evento, grandioso, digno de atenção dos artistas, do público e poder público. O processo de indicação dos artistas para a premiação é organizado de que maneira? Como é selecionado o júri e quais critérios são utilizados para a escolha dos vencedores dentro de suas categorias?

Marcelo: Os principais objetivos do Prêmio Hangar sempre foram os de valorizar, reconhecer, incentivar, homenagear e premiar os destaques da música em nosso Estado. Para a seleção dos indicados a destaque do ano em 2013, foram realizadas pesquisas de opinião direcionadas a músicos, produtores, gestores de espaços culturais, jornalistas e artistas em geral no território criativo da Ribeira. Com frequência recebo cd´s, dvd´s, convites para assistir shows. Esse acompanhamento e interação com o trabalho dos músicos nos palcos, na imprensa e redes sociais proporciona um termômetro e um mapeamento interessante do crescimento e destaque dos artistas dentro e fora do estado. Para um projeto de premiação essas informações são fundamentais, formam uma espécie de base, referências que apontam uma direção.
O perfil do júri oficial foi voltado para a produção e o jornalismo cultural. Um estímulo e valorização de iniciativas na área da comunicação que possam contribuir com uma percepção crítica e positiva da produção musical do Estado. 
 Na premiação de 2013 sugerimos aos integrantes do júri oficial observarem os seguintes critérios para a escolha do vencedor em cada categoria:

Capacidade criativa e de inovação: caráter inovador da atração ou produto no decorrer do ano, agregada a contextualização da trajetória do artista e a sua capacidade de renovação e continuidade do próprio trabalho; 
Coerência artística, domínio do conhecimento, objetividade e coerência estética (relativa ao resultado esperado daquilo a que se propõe);
Potencial de Promoção e domínio dos recursos de comunicação: uso de alternativas criativas de comunicação, novas linguagens, mídias contemporâneas ou tradicionais, lançamento de produtos, realização de shows ou apresentações;
Ética e Responsabilidade Social: compromisso com o segmento cultural, observando sua conduta diante da violação de direitos de terceiros, incluídos os de propriedade intelectual; discriminação de raça, credo, orientação sexual ou preconceito de qualquer natureza.

9- Você parece ser uma pessoa bem inquieta, está sempre na rua, participando de muitas ações e prestigiando o que vem acontecendo na cena cultural da cidade. Você acredita que um produtor cultural deve ter como pauta de trabalho a participação em outros eventos que não só o que ele produz? 

Marcelo: Eu penso que deveria. Para mim produção é mais que uma profissão. É um estilo de vida! 

10- As redes sociais funcionam como uma ferramenta aliada do produtor hoje em dia, por proporcionar infinitas informações ao alcance das mãos, conectar pessoas e sobretudo impulsionar uma mídia. Você é um produtor que costuma fazer uso das redes socais no trabalho? E como pensa essa ferramenta?  

Marcelo: Uso diariamente. É um canal direto com as pessoas, com os artistas e outros profissionais. Um termômetro daquilo que se faz e de como as pessoas reagem e o que pensam sobre suas ações e opiniões. Importante para discutir ideias, estabelecer parcerias, definir e divulgar agendas e projetos, não só com os que estou envolvido, como também os que acho interessante. Muitas vezes sou consultado sobre elaboração de projetos, leis de incentivo e até sugestão para nomes de bandas. Consigo lidar com isso numa boa. Gosto e procuro repassar o máximo de informações. Experiências e informações valem mais quando são compartilhadas.


Para conhecer mais:

Videoclipe do Prêmio Hangar de Músia 2013 - 11º edição: http://www.youtube.com/watch?v=GtJzMWdaRpo

Entrevista com Marcelo Veni por Margot Ferreira: http://www.youtube.com/watch?v=6DjfUthp034

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